Respostas para as dúvidas mais comuns sobre a tireoide
1 – A tireoide alterada pode engordar?
Sim, a tireoide alterada pode levar a alterações no peso corporal, dependendo do tipo de alteração. No caso do hipotireoidismo, que é a deficiência na produção de hormônios tireoidianos, é comum o aumento de peso. No entanto, esse ganho de peso é geralmente pequeno e ocorre, sobretudo, devido à retenção hídrica. Contrariamente ao que se acredita, o ganho de peso excessivo não costuma ser uma complicação habitual do hipotireoidismo. No hipertireoidismo, que é a produção excessiva de hormônios tireoidianos, a perda de peso é um sintoma comum, apesar do aumento do apetite (polifagia).
2 – Como saber se a minha tireoide está alterada?
Saber se a sua tireoide está alterada geralmente envolve a avaliação dos seus sintomas, um exame físico e, principalmente, exames laboratoriais. O principal exame para rastreio de alterações na função tireoidiana, é a dosagem do hormônio tireoestimulante (TSH) sérico. Valores elevados de TSH sugerem hipotireoidismo primário, enquanto valores baixos ou suprimidos sugerem hipertireoidismo ou hipotireoidismo central. Outros exames importantes são as dosagens de tiroxina livre (T4 livre) e, em alguns casos, tri-iodotironina (T3 ou T3 total). A dosagem de T4 livre é preferível à de T4 total por não sofrer interferências de proteínas de ligação. A dosagem de T3 é útil em casos de hipertireoidismo, mas na suspeita de hipotireoidismo, a dosagem de T3 sérico geralmente é desnecessária. Anticorpos antitireoidianos, como o anti-TPO, podem estar elevados em doenças autoimunes da tireoide, como a Tireoidite de Hashimoto. A dosagem de calcitonina sérica pode ser útil na suspeita de carcinoma medular da tireoide. Além dos exames de sangue, exames de imagem como a ultrassonografia cervical são fundamentais na avaliação de nódulos tireoidianos. A cintilografia de tireoide é reservada para situações específicas, como a avaliação de nódulos associados a hipertireoidismo.
3 – O que é a Tireoidite de Hashimoto?
A Tireoidite de Hashimoto, também conhecida como tireoidite linfocítica crônica ou tireoidite autoimune, é um distúrbio autoimune que afeta a glândula tireoide. Nesse distúrbio, o corpo desenvolve anticorpos (principalmente anticorpos antitireoperoxidase – anti-TPO, e/ou antitireoglobulina – anti-Tg) que atacam e danificam a própria glândula tireoide. Essa agressão autoimune causa inflamação na tireoide. Com o tempo, essa inflamação pode fazer a glândula aumentar de tamanho (causando um bócio) e/ou ter dificuldade em produzir hormônio tireoidiano suficiente, levando ao hipotireoidismo.
4 – Quais os sintomas do hipotireoidismo? E do hipertireoidismo?
Os sintomas da disfunção tireoidiana podem variar de pessoa para pessoa e dependem da gravidade e duração da alteração.
Sintomas do Hipotireoidismo:
O hipotireoidismo causa uma lentidão generalizada dos processos metabólicos. Muitos pacientes podem ser assintomáticos ou ter poucos sintomas. As manifestações mais comuns incluem:
• Astenia (cansaço, fraqueza)
• Sonolência
• Intolerância ao frio
• Pele seca e áspera
• Voz arrastada
• Hiporreflexia profunda (reflexos diminuídos)
• Edema periorbital (inchaço ao redor dos olhos)
• Bradicardia (ritmo cardíaco lento)
• Ganho de peso (geralmente modesto)
• Constipação intestinal
• Queda de cabelos
• Déficit de memória, dificuldade de concentração
• Rouquidão
• Dor muscular, artralgias (dor nas articulações), cãibras.
Sintomas do Hipertireoidismo:
O hipertireoidismo causa um efeito estimulatório sobre o metabolismo e os tecidos. As manifestações mais características são:
• Nervosismo
• Insônia
• Emagrecimento (apesar do aumento do apetite)
• Taquicardia (ritmo cardíaco rápido) e palpitações
• Intolerância ao calor e sudorese excessiva
• Tremores (geralmente finos nas mãos)
• Fraqueza muscular
• Aumento da frequência de evacuações, sem diarreia
• Dispneia (falta de ar)
• Distúrbios menstruais em mulheres
• Fibrilação atrial (um tipo de arritmia)
• Alterações oculares (Oftalmopatia de Graves), como retração palpebral, olhar fixo ou assustado, e em casos mais graves, proptose (olhos saltados), visão dupla e dor ocular
• Bócio difuso (aumento da tireoide).
5 – Tem algum alimento ou suplemento que ajuda a regular a tireoide?
Alguns elementos e suplementos podem influenciar a função tireoidiana, mas a ideia de “regular” a tireoide apenas com alimentos ou suplementos deve ser vista com cautela, especialmente na presença de doenças estabelecidas. Não há alimentos ou suplementos que, por si só, “regulem” uma tireoide doente; o tratamento de disfunções tireoidianas estabelecidas geralmente requer medicação.
• Iodo: O iodo é essencial para a produção dos hormônios tireoidianos. A deficiência de iodo pode levar a bócio e hipotireoidismo. No entanto, o excesso de iodo também pode ser prejudicial, podendo inibir a síntese hormonal (efeito Wolff-Chaikoff), especialmente em pessoas com doença tireoidiana prévia. Em alguns casos, o excesso de iodo pode induzir hipertireoidismo em pessoas com doença tireoidiana autônoma (fenômeno de Jod-Basedow). Fontes comuns de excesso de iodo incluem contrastes iodados e a amiodarona.
• Selênio: O selênio é um micronutriente importante para a função tireoidiana. A suplementação de selênio em pacientes com Tireoidite de Hashimoto parece reduzir os níveis de TSH e anti-TPO. No entanto, o uso prolongado de selênio em altas doses pode aumentar o risco de diabetes tipo 2, doença vascular periférica, glaucoma e mortalidade, limitando seu uso a um máximo de 6 meses em alguns contextos (como na Doença Ocular da Tireoide levemente ativa).
• Biotina: Altas doses de biotina (vitamina B7), usadas em suplementos para cabelo e unhas, podem interferir nas dosagens laboratoriais de hormônios tireoidianos e TSH, levando a resultados falsamente elevados de T3/T4 e falsamente baixos de TSH, simulando hipertireoidismo (como Doença de Graves). É crucial suspender a biotina por pelo menos 48 horas antes dos exames de função tireoidiana.
• Alimentos e Medicamentos que interferem na Levotiroxina: Alguns alimentos (fibras, soja, café expresso) e medicamentos (sais de ferro, cálcio, inibidores da bomba de prótons) podem interferir na absorção da levotiroxina, exigindo que sejam ingeridos pelo menos 4 horas após a tomada da medicação. Medicamentos que aceleram o metabolismo hepático da L-T4 (como fenitoína, carbamazepina, fenobarbital, rifampicina, sertralina) podem exigir aumento da dose de L-T4.
6 – Nódulo na tireoide é câncer?
Não, a maioria dos nódulos na tireoide não é câncer. Estima-se que 90% ou mais dos nódulos tireoidianos sejam benignos. O câncer de tireoide ocorre em cerca de 5 a 10% dos casos em adultos.
7 – Nódulo e bócio são a mesma coisa?
Não, nódulo e bócio não são a mesma coisa, embora possam estar relacionados. Um nódulo tireoidiano é uma lesão ou massa discreta dentro da glândula tireoide, radiologicamente distinta do tecido tireoidiano circundante. Pode haver um único nódulo (nódulo solitário) ou vários nódulos. Um bócio é um aumento geral do tamanho da glândula tireoide. Um bócio pode ser difuso, onde toda a glândula está aumentada de maneira uniforme, ou nodular, onde a glândula está aumentada e contém um ou mais nódulos. Quando há múltiplos nódulos em uma glândula aumentada, é chamado de bócio multinodular. Portanto, um nódulo é uma área localizada anormal dentro da tireoide, enquanto um bócio é o aumento da glândula como um todo. O bócio pode ser causado pela presença de nódulos (bócio nodular ou multinodular) ou por outras condições que fazem a glândula crescer uniformemente (bócio difuso).
8 – Como é o tratamento do hipotireoidismo?
O tratamento de escolha para o hipotireoidismo é a reposição do hormônio tireoidiano que está em falta. A medicação mais utilizada para isso é a levotiroxina (L-T4). A levotiroxina é tomada por via oral, geralmente uma vez ao dia. Para melhor absorção, é recomendado tomá-la em jejum pela manhã, com um intervalo de pelo menos 30 minutos antes de comer. A dose inicial para adultos com hipotireoidismo franco é geralmente de 1,6 a 1,8 µg/kg/dia. No entanto, a dose será ajustada individualmente com base nos níveis de TSH e T4 livre. O objetivo do tratamento é restabelecer os níveis de TSH e T4 livre dentro da faixa de referência normal para o paciente. Uma vez iniciada, a reposição com levotiroxina é, na maioria dos casos, um tratamento contínuo e de longo prazo. São necessárias cerca de 4 a 12 semanas para que o TSH normalize após o início ou ajuste da dose. A monoterapia com levotiroxina é eficaz para a maioria dos pacientes. Embora existam discussões sobre terapia combinada (L-T4 + L-T3), as evidências atuais não demonstram superioridade em relação ao tratamento apenas com L-T4 em humanos. É importante estar atento a fatores que podem interferir na absorção ou metabolismo da levotiroxina, como certos alimentos e medicamentos, que podem exigir ajuste da dose.